Origens do Hatha Yoga: o corpo é o caminho para a transcendência

 


A origem do yoga dos ásanas (posturas), como conhecemos remete ao Hatha Yoga, que significa força, mas também há uma interpretação esotérica da palavra, encontrada na obra Yoga-Shikha Upanishad, que significa a “harmonia do sol e da lua”, em referência a prática para unir ou equilibrar a força solar e lunar, ou masculino e feminino. Essa definição vai depender da tradição yogue que o praticante segue. Na tradição Tantra, por exemplo, não há separação entre masculino e feminino, ou seja, Shiva é consciência e Shakti é a força do movimento.

O desenvolvimento do Hatha Yoga começou com os ascetas da linhagem dos Natha Siddhas, em tradução livre “os senhores sábios”, do norte da Índia. Há registros do Hatha Yoga nos comentários dos Vedas, as Upanishads (2000 AEC). “Não conhece doença, velhice nem sofrimento aquele que forja seu corpo no fogo do Yoga” Shvetashvatara Upanishad, II:12-13. Outra citação que remete ao trabalho com os ásanas está no tratado de Hatha Yoga Gheranda Samhita: “Assim como um jarro de argila crua, jogado neste mundo, o corpo decai rapidamente. É preciso endurecê-lo, forjando-o no fogo do poder, para fortalecê-lo e purificá-lo”, I:24. 

O Hatha Yoga desenvolveu-se no período pós-clássico da história indiana, entre os séculos 9 e 10 EC. Os principais tratados são três: Shiva Samhita (Coleção de Shiva) escrito por autor desconhecido entre os séculos 14 e 16, na forma de um ensinamento do deus hindu Shiva à esposa Parvati. O primeiro capítulo é um tratado que resume a filosofia não-dual (Advaita Vedanta), e os capítulos restantes discutem yoga, a importância de um guru e descrições de ásanas e poderes alcançáveis ​​com yoga. Outro tratado é o Haṭha Yoga Pradīpikā (Luz sobre Hatha Yoga) um manual clássico do século 15 composto pelo yogue Svātmārāma como uma compilação dos textos anteriores do Haṭha Yoga. Ele trata da preparação para a purificação física antes da meditação superior, ou Raja Yoga. E por fim, Gueranda Samhita (Coleção de Gheranda) cujos manuscritos foram descobertos em uma região que se estende de Bengala ao Rajastão, de origem provável entre 1400 e 1800 EC. O livro está estruturado num diálogo entre o sábio Gheranda e o aluno Chanda. 

Os praticantes de yoga leem muito os Yoga-Sutras de Patañjali, um compilado escrito antes de 400 EC, que sintetizou e organizou o conhecimento sobre o yoga clássico. Não é um tratado do Hatha Yoga, mas sim, de Raja Yoga, modalidade de yoga onde o foco é o desenvolvimento da mente do observador, baseado na meditação. Nesta obra é abordado o sistema dual, onde corpo e consciência são duas partes distintas e você deve ignorar o corpo físico para atingir a consciência. O Yoga-Sutras é criticado por algumas tradições por representar a posição da realeza da época e não do yoga marginalizado praticado pelos Natha Siddhas, mas tem importância de estudo especialmente para avançar na meditação e se aprofundar nas condutas éticas, os cinco yamas e cinco niyamas (uma lista de observações que nos permite superar obstáculos e alcançar o estado de equilíbrio). 

As escolas filosóficas e tradições

O Hatha Yoga parte do princípio não-dual, herdado da tradição tântrica, que se baseia no conceito do corpo como o caminho para atingirmos um estado de transcendência, por isso as práticas físicas. Há várias escolas filosóficas indianas que pautaram o caminho do yoga. A filosofia Advaita-Vedanta (não-dual) considera que a matéria (prakriti) é ilusão e deve ser priorizada a consciência (purusha). Essa filosofia defende que a alma é o mesmo que o Absoluto (Brahman). Assim, somos a própria manifestação divina, quando entramos em contrato com essa manifestação de puro amor, nos libertamos.

Por outro lado, há a corrente filosófica Sámkhya, que defende a dualidade (vaita), afirmando que existe a natureza primordial (prakriti) o Eu Universal (purusha) e que não há necessidade da existência de um deus para explicar o universo, pois a consciência permeia tudo. Tanto  Sámkhya quanto Yoga são consideradas doutrinas complementares, onde Sámkhya representa a investigação racional dos fenômenos do saber, e Yoga seria a experiência prática da consciência e dos fenômenos.

Lembrando que o pensamento filosófico indiano envolve seis escolas que aceitam os Vedas como as supremas escrituras reveladas. São elas: Samkhya, Yoga, Nyaya, Vaisheshika, Mimamsa e Vedanta, essa última é focada no misticismo, que acabou por se tornar a corrente dominante do hinduísmo no período pós-medieval e tem várias subdivisões. 

"O exterior da religião, as escrituras, os textos religiosos satisfazem o intelecto, enquanto que a espiritualidade, que é o interior da religião, dá a alegria e paz mental porque acalma a mente. A procura começa exteriormente, mas está destinada a chegar no interior da religião." Amma 

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